segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Metamorfoses da Intolerância.

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por João


Na madrugada desta segunda-feira quatro jovens saíram para se divertir em São Paulo. Nada mais comum que isso, exceto pelo divertimento escolhido: caçar homossexuais, literalmente, e espancá-los. É inútil perguntar como alguém pode “resolver” divertir-se dessa forma; a pergunta correta é essa: “Qual o nível mental dessas pessoas?”. Trata-se mesmo, seguramente, de uma incapacidade de decisão, da inexistência absoluta de humanidade.

Este tema do fascismo é importante, pois - além da obrigação de o denunciarmos incansavelmente - possui uma particularidade atual: reveste-se de diversas roupagens diferenciadas, justificativas paradoxais, e, até mesmo, humanistas. Não se trata, portanto, de apreender e desmascarar as formas variáveis que toma, pois, nesse caso, é provável que nos perdêssemos num pântano infinito, para além de quantas são as formas reconhecíveis de preconceitos, e, como acontece na mídia e no senso-comum, acabaríamos nos tornando, em momento oportuno, um tipo novo - ou secular - de fascistas.

Não é difícil concluir que estes jovens que massacraram homossexuais na noite passada foram motivados por um impulso irrefletido, mas, de forma idêntica, as manifestações fascistas assustadoras da última semana contra nordestinos, mesmo que largamente tratado na mídia – ou precisamente por isso! – resultaram em coisa não menos pior, com o espancamento e assassinato de uma jovem de vinte e um anos.

O ponto comum que prevalece nessas diferentes e diárias manifestações da barbárie é a comprovação mais uma vez de que o fascismo, considerado enquanto força social - necessariamente irrefreável em si mesmo -, tem, no simples fenômeno da existência humana a verdadeira origem motivacional de sua destruição – independente se judeu, negro, gay, pobre, nordestino, mulher, etc., pois o problema do Capital é com o homem em geral, e o do homem, com o capitalismo. A tese clássica de que os regimes fascistas constituem a última cartada política do capitalismo em momentos de crise aguda permanece atual, só que, com um acréscimo importante: as crises agudas deste corpo histórico gangrenado se tornaram permanentes.

Devemos cuidar para não deixar que a vertigem do discurso pequeno-burguês ensurdeça nossa capacidade de compreender a verdadeira origem dos problemas. Assim, por exemplo, na maioria das manifestações de repúdio à violência, apresenta-se alternativas para a solução do problema que geralmente reproduzem as mesmas condições que o geraram, conforme aquela velha máxima miserável de julgar a vida: “A tentação é insuportável, mas erra quem se deixa cair em tentação”.


Até quando a moderna “sociedade digital”, com seu conforto de mentira e suas luzes coloridas, poderá esquivar-se das sombras e do obscurantismo que habita em suas profundezas?





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