quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O TRABALHO DA CARICATURA

Sou caricaturista e faço teatro no Itaim Paulista.A área do teatro no qual me especializei foi o oficío da dramaturgia. O trabalho de caricatura é a minha principal fonte de renda. Exerço tal atividade nas ruas de São Paulo durante a noite, abordando as pessoas nos bares após o expediente de trabalho ou aquelas que vão para a balada. O percurso abrange o centro velho, nas proximidades da Bovespa, Vila Madelana, Vila Mariana, rua Augusta, Santa Cecilia, e principalmente a av. Paulista. Faço esse trabalho a quase dez anos.
Começo a trabalhar a partir da quarta- feira, seguindo nesse ritmo até aos domingos. Quarta e quinta trabalho das 17 as 12 horas. Sexta e sábado varo a noite. Segunda e terça são equivalentes ao sabádo e o domingo. Cobro cinco reais a caricatura.
Como caricaturista tenho de manter treinados duas coisas: a mão direita e o olhar. Tenho de desenhar rápido para abordar a próxima mesa, ganhar a grana possível naquele bar, avaliar o fluxo de consumidores, avaliar qual é o bar mais propicio para tirar a devida moeda.
O olhar é necessário para captar rapidamente os traços do rosto do cliente, seu geito , forma de sorrir, caracteristicas cômicas, detalhes engraçados. O olhar também serve para se precaver da violência que sempre espreita esse tipo de abordagem, e , para quem exerce esse tipo de trabalho, no geral a violência parte da clientela.
O olhar também é necessário para afiar a percepção do meio no qual estou mergulhado. Vejo outras coisas para além dos traços riscados na prancheta de desenho.
Exemplo:
A fragmentação do espaço urbano em territórios permanentes e temporários.
Diferentes classes sociais ocupando, transitando, se intercalando nesses fragmentos territoriais num jogo de forças com regras explicitadamente ocultas.
As táticas de sobrevivência daqueles que tem a rua como lugar para morar.
As táticas de sobrevivência daqueles que tema a rua como lugar para vender sua precária força de trabalho.
A arquitetura financeira se relacionando com cada grupo social de acordo com o seu valor de consumo.
A arquitetura das moradias construídas pelos habitantes da rua a partir de objetos de consumo descartados.
E assim por diante. O olho seco sobre as coisas.
Há também o exercicio da escuta.
Certa vez, no centro velho, lá na praça do Patriarca, em torno da meia noite, voltando da av. Paulista a pé a caminho do Terminal de onibus Parque D.Pedro, escutei um habitante de rua no seu limite:
- QUE SE FODA! QUE SE FODA ESSA VAGABUNDA! ÉÉÉÉÉÉÉE! QUE SE FODA ESSA PORRA! ESSA PORRA DE SOCIEDADE! QUE SE FODA ESSA SOCIEDADE DO CARALHO!!!



texto publicado no jornal TRAULITO número 1 da Cia do Latão

Um comentário:

  1. Black ★ Rock Shooter: TV Series Fight Scenes Compilation_QUE TENHA O MOTOR DA CRIAÇÃO

    ResponderExcluir