quarta-feira, 28 de março de 2012

CRISE?!

Há quatro anos atrás assistimos ao início de uma grande crise do capitalismo. Aparentemente com proporções semelhantes á “crise de 29”, esta crise concilia um grande problema de déficits fiscais em várias potências (“crise da dívida”), sendo isso conseqüência direta da já insustentável rede financeira mundial (as bolhas especulativas), junto á crise cíclica (superprodução x vazão de mercadorias) do sistema econômico. Porém, o que se encontra diante de nossos olhos é, na realidade, uma crise estrutural, onde depressões econômicas cada vez mais extensas e profundas não podem mais ser corrigidas com intervenção estatal como temporariamente foram em outros períodos.
Aliás, as injeções de montantes de dinheiro – do próprio Estado ou de “ajuda externa” - para que o mercado volte a respirar são falsos mecanismos que apenas prorrogam e agravam o problema, como pode se ver na Europa. Ou seja, o que estamos presenciando desde 2008 é a mais alta irracionalidade humana por parte de uma classe conservadora que, para manter o status quo – e, portanto, manter seus benefícios adquiridos pela exploração imperialista -, coloca em risco todo o destino da humanidade. Sim; essa afirmação sem dúvidas não possui nenhum tom catastrófico gratuito. Para quem questiona os rumos desta crise basta lembrar a presença hegemônica global dos Estados Unidos e pensar o quanto o mundo se tornou dependente do seu imperialismo, ou melhor, quanto o seu imperialismo dominou e colonizou o mundo todo. Isso faz da crise atual uma crise histórica onde, pela primeira vez, todo o planeta está à mercê da conjuntura norte-americana e de outras poucas potências européias. Exemplos disso são as broncas que Brasil e China têm dado nos EUA: caso suas posições de “emergentes” não dependessem deste ultimo não haveria motivo para se preocupar; pelo contrário, seria “bom” conquistar mais mercados. É como o capanga que vê a ruína do patrão e se afligia, pois sabe que esta engendra sua própria ruína.
Quem realmente acha que o capitalismo poderá se restabelecer depois de tanto dinheiro injetado nos mercados instáveis sem atingir nenhuma perspectiva concreta? Além de tudo, há inúmeras questões que se assomam para fazer desses últimos recursos estatais um absurdo da nossa vida: enquanto trilhões são emprestados a grandes bancos, a população é que tem que se virar movimentando o mercado de novo – consumindo, claro, como o nosso governo “dos trabalhadores” também manda aqui! – seja contraindo empréstimos diretamente, em compras parceladas, em impostos, crédito, inflação, etc. para pagar a dívida que bancos, empresas e Estado tomaram. No caso de créditos consignados – os mais baratos para a população – pagamos juros de 28% ao ano (Brasil) enquanto os bancos tomam os montantes a juros de 1% ao ano. Ao mesmo tempo, sofremos inúmeros tipos de austeridade. Nos países com maiores problemas os cortes são gerais, desde cortes drásticos na Saúde Pública até suspensão de merenda escolar (Grécia); já em países como o Brasil, onde se diz que a crise não chegou, os cortes são escamoteados: se os dados revelam estabilidade ou diminuição na taxa de desemprego não revela que isso é feito ás custas do trabalho precário, cortes em gastos públicos, desvalorização da mão-de-obra qualificada, terceirização, etc. Se sobem alguns números em infra-estrutura, comércio e commodities, não se diz que a indústria – o motor de qualquer país que queira mesmo se desenvolver – estagnou. Ora, durante esses últimos anos podemos ver claramente as manobras políticas que o nosso governo tem usado para manter as coisas como estão. Apesar da fachada que se constrói em torno da Copa e das Olimpíadas, a base econômica do Brasil continua desprezando a indústria e mantendo sua posição de colônia, majoritariamente agrário, - assim como o eixo América Latina -, agora voltada para a China.
Ainda assim há uma grande ilusão nos chamados BRIC’s. O que deve se entender aqui é que o principal produtor dos emergentes, a China, apenas ganhou esta posição por uma necessidade da crise de queimar e escoar excedentes de capital. Logo, devemos nos fazer duas perguntas: 1) Quanto tempo levará até que a indústria chinesa também sature e não encontre mais mercado? Ora, obviamente isso acontecerá num prazo muito mais rápido – economistas apostam dez anos! - do que o prazo que tiveram as principais potências, onde tinham o mundo todo para desbravar e estabelecer nos quatro cantos da Terra seus padrões consumistas. 2) Onde mais os excedentes de capital e mercadoria podem pensar em se refugiar? Talvez em alguns recantos da Ásia, da África e da América Latina onde o processo de modernização capitalista não se deu por completo; mas aí há um enorme problema! Não se trata apenas de investir e fazer girar sustentando um pouco mais a produção e circulação de mercadorias. Esses recantos da Terra que não foram desenvolvidos não o foram justamente devido a um esquema global, uma necessidade do mercado mundial, devido á estrutura de uma conjuntura internacional.
Isso significa que as estreitas e peculiares relações que os EUA e as principais potências européias adquiriram, a partir do século XX, principalmente com a América Latina, Oriente Médio, Índia e continente africano, exigiam que esses países estruturassem suas economias de forma que lhes garantissem uma exploração como melhor conviesse ás burguesias imperialistas. Daí que seus caracteres coloniais, subdesenvolvidos, miseráveis, fazem parte de um plano capitalista global. Esse é o lado sombrio, mas fundamental da globalização. Esse destino estava traçado nas primeiras expansões das grandes navegações.
Agora não há mais possibilidades de crescimento para o sistema do capital; qualquer tentativa da burguesia em manter, conservar esse sistema se torna extremamente nociva não só a certas parcelas da população, mas põe em risco o destino de toda a humanidade.

lEANDRO CAZINO

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