Assim estava escrito a giz numa das paredes úmidas do Navio Nomade:
È possível encontrar uma expressão simples para exprimir tudo o que entendo de amizade.O interesse pode implicar prazer em sua sorte e sofrimento.
ou então implicar sofrimento por causa da boa sorte dos outros
e prazer quando eles se dão mal
ou alternância desses sentimentos
produzir comunidade
produzir uma comunidade
Do ponto de vista biológico, o propósito da vida é deixar grande número de descendentes. Nossos instintos no principal, são de molde a conseguir isso numa comunidade mais ou menos incivilizada. O êxito biológico, nessa comunidade, é conseguido em-parte pela cooperação , e em parte pela competição
NANANO BIBLIOTECA DA TRIPULAÇÃO
Movimento cultural e artístico voltado à reflexão sobre os problemas da arte e, principalmente, sobre os impasses da criação verbal no mundo da mercadoria. Mas, para além destas, compreendemos a necessidade da reflexão em que a própria sociedade deve ser investigada de uma perspectiva histórica, crítica e combativa da barbárie no capitalismo decadente.
quinta-feira, 23 de dezembro de 2010
quarta-feira, 22 de dezembro de 2010
Arte é crime
Cuidado ao caminhar na av. Paulista.
Você pode ser confundido com um artista de rua.
Recomendações:
Evite usar roupas coloridas.
Evite gestos exagerados.
Sapatos largos.
Ao caminhar evite passos que possam sugerir algo como dança ou comicidade.
Não cante muito alto.
Agentes da Lei e da Ordem foram treinados em História da Arte para identificar qualquer tipo de manifestação estética em áreas públicas.
Você pode ser confundido com um artista de rua.
Recomendações:
Evite usar roupas coloridas.
Evite gestos exagerados.
Sapatos largos.
Ao caminhar evite passos que possam sugerir algo como dança ou comicidade.
Não cante muito alto.
Agentes da Lei e da Ordem foram treinados em História da Arte para identificar qualquer tipo de manifestação estética em áreas públicas.
segunda-feira, 20 de dezembro de 2010
Noites Capitalistas
.
por João
Periferia: corpos vazios e sem ética,
lotam os pagodes rumo à cadeira elétrica.
Eu sei, você sabe o que é frustração:
máquina de fazer vilão. Eu penso mil fita,
vou enlouquecer...
(Racionais – “Jesus Chorou”)
O título desta crônica deve-se a uma reportagem que o Jornal da Globo transmitiu dias atrás com o seguinte dizer: “As noites da China comunista são noites capitalistas”. A ironia do título é ainda mais “profunda” no próprio conteúdo da reportagem, que, visando atingir mais uma vez - nunca é tarde! – o “sonho comunista”, fez uma advertência essencial à vida do homem sobre a terra: noites capitalistas são divertidas e felizes; noites comunistas são tristes e obscuras. Imagens monumentais da cosmopolita cidade de Pequim: iluminada... prostituta de luxo! A felicidade pode ser comprada; o brilho ofuscante do níquel reluz nos olhos embriagados da turista francesa... lição de moral! Aprendam de uma vez: o capitalismo venceu, e era tão impossível acontecer o contrário que até mesmo um país dito comunista rendeu-se aos seus encantos: “rendam-se, sou irresistível, sou bom!”. Era este, em suma, o conteúdo da reportagem. Mas, porque homens tão bons insistem em cutucar o pobre cadáver do comunismo? Piedade ao morto é o que peço. Ah, sim, para saber se a vida noturna de Pequim é atraente, basta citar a definição da reportagem: “Uma mistura de Nova York com Las Vegas”.
Observar a vida noturna de uma cidade é uma boa maneira de conhecê-la. Pequim, por exemplo: pessoas vazias, fúteis e desesperadas, em suma, mercadorias humanas (mercadorias humanizadas; humanos mercantilizados, tanto faz). Trotsky afirmou que os grandes centros urbanos são a imagem histórica mais acabada do capitalismo: por um lado a força monstruosa do Capital, com suas estruturas de concreto armado, por outro, seu resultado mais lastimável e inevitável: a indigência, a indiferença, o auto-anonimato, a miséria... A globalização, entretanto, inaugura sim um período de certa igualdade. Afinal de contas, a miséria espiritual e ideológica dos centros expande-se mais e mais para as periferias; e, por outro lado, a miséria material destas ameaça invadir os grandes centros financeiros do Mundo. É olhar para a África e ver o dia de amanhã de todos nós, parafraseando Marx, que, há mais de um século atrás disse que bastava olhar a Inglaterra para ver o futuro de outros países.
Em São Paulo, centro financeiro da América Latina e um dos maiores do mundo, as “noites capitalistas” estão muito longe das madrugadas prometidas pelos poetas. Não há cancioneiros ao luar, nem garoa romântica, nem tampouco as luzes ofuscantes e os cenários iluminados das noites cinematográficas de Las Vegas. Uma simples caminhada é o suficiente para vermos os fantasmas que circulam no submundo e nos guetos da legalidade. A rotina mói as pessoas de dia, e, de noite, com a violência, o medo, a tensão, aproveita-se melhor o bagaço. É lícito perguntar: será que as dezenas de milhões de operários superexplorados da China "comunista" freqüentam as “noites capitalistas” de Pequim?
por João
Periferia: corpos vazios e sem ética,
lotam os pagodes rumo à cadeira elétrica.
Eu sei, você sabe o que é frustração:
máquina de fazer vilão. Eu penso mil fita,
vou enlouquecer...
(Racionais – “Jesus Chorou”)
O título desta crônica deve-se a uma reportagem que o Jornal da Globo transmitiu dias atrás com o seguinte dizer: “As noites da China comunista são noites capitalistas”. A ironia do título é ainda mais “profunda” no próprio conteúdo da reportagem, que, visando atingir mais uma vez - nunca é tarde! – o “sonho comunista”, fez uma advertência essencial à vida do homem sobre a terra: noites capitalistas são divertidas e felizes; noites comunistas são tristes e obscuras. Imagens monumentais da cosmopolita cidade de Pequim: iluminada... prostituta de luxo! A felicidade pode ser comprada; o brilho ofuscante do níquel reluz nos olhos embriagados da turista francesa... lição de moral! Aprendam de uma vez: o capitalismo venceu, e era tão impossível acontecer o contrário que até mesmo um país dito comunista rendeu-se aos seus encantos: “rendam-se, sou irresistível, sou bom!”. Era este, em suma, o conteúdo da reportagem. Mas, porque homens tão bons insistem em cutucar o pobre cadáver do comunismo? Piedade ao morto é o que peço. Ah, sim, para saber se a vida noturna de Pequim é atraente, basta citar a definição da reportagem: “Uma mistura de Nova York com Las Vegas”.
Observar a vida noturna de uma cidade é uma boa maneira de conhecê-la. Pequim, por exemplo: pessoas vazias, fúteis e desesperadas, em suma, mercadorias humanas (mercadorias humanizadas; humanos mercantilizados, tanto faz). Trotsky afirmou que os grandes centros urbanos são a imagem histórica mais acabada do capitalismo: por um lado a força monstruosa do Capital, com suas estruturas de concreto armado, por outro, seu resultado mais lastimável e inevitável: a indigência, a indiferença, o auto-anonimato, a miséria... A globalização, entretanto, inaugura sim um período de certa igualdade. Afinal de contas, a miséria espiritual e ideológica dos centros expande-se mais e mais para as periferias; e, por outro lado, a miséria material destas ameaça invadir os grandes centros financeiros do Mundo. É olhar para a África e ver o dia de amanhã de todos nós, parafraseando Marx, que, há mais de um século atrás disse que bastava olhar a Inglaterra para ver o futuro de outros países.
Em São Paulo, centro financeiro da América Latina e um dos maiores do mundo, as “noites capitalistas” estão muito longe das madrugadas prometidas pelos poetas. Não há cancioneiros ao luar, nem garoa romântica, nem tampouco as luzes ofuscantes e os cenários iluminados das noites cinematográficas de Las Vegas. Uma simples caminhada é o suficiente para vermos os fantasmas que circulam no submundo e nos guetos da legalidade. A rotina mói as pessoas de dia, e, de noite, com a violência, o medo, a tensão, aproveita-se melhor o bagaço. É lícito perguntar: será que as dezenas de milhões de operários superexplorados da China "comunista" freqüentam as “noites capitalistas” de Pequim?
quarta-feira, 8 de dezembro de 2010
O TRABALHO DA CARICATURA
Sou caricaturista e faço teatro no Itaim Paulista.A área do teatro no qual me especializei foi o oficío da dramaturgia. O trabalho de caricatura é a minha principal fonte de renda. Exerço tal atividade nas ruas de São Paulo durante a noite, abordando as pessoas nos bares após o expediente de trabalho ou aquelas que vão para a balada. O percurso abrange o centro velho, nas proximidades da Bovespa, Vila Madelana, Vila Mariana, rua Augusta, Santa Cecilia, e principalmente a av. Paulista. Faço esse trabalho a quase dez anos.
Começo a trabalhar a partir da quarta- feira, seguindo nesse ritmo até aos domingos. Quarta e quinta trabalho das 17 as 12 horas. Sexta e sábado varo a noite. Segunda e terça são equivalentes ao sabádo e o domingo. Cobro cinco reais a caricatura.
Como caricaturista tenho de manter treinados duas coisas: a mão direita e o olhar. Tenho de desenhar rápido para abordar a próxima mesa, ganhar a grana possível naquele bar, avaliar o fluxo de consumidores, avaliar qual é o bar mais propicio para tirar a devida moeda.
O olhar é necessário para captar rapidamente os traços do rosto do cliente, seu geito , forma de sorrir, caracteristicas cômicas, detalhes engraçados. O olhar também serve para se precaver da violência que sempre espreita esse tipo de abordagem, e , para quem exerce esse tipo de trabalho, no geral a violência parte da clientela.
O olhar também é necessário para afiar a percepção do meio no qual estou mergulhado. Vejo outras coisas para além dos traços riscados na prancheta de desenho.
Exemplo:
A fragmentação do espaço urbano em territórios permanentes e temporários.
Diferentes classes sociais ocupando, transitando, se intercalando nesses fragmentos territoriais num jogo de forças com regras explicitadamente ocultas.
As táticas de sobrevivência daqueles que tem a rua como lugar para morar.
As táticas de sobrevivência daqueles que tema a rua como lugar para vender sua precária força de trabalho.
A arquitetura financeira se relacionando com cada grupo social de acordo com o seu valor de consumo.
A arquitetura das moradias construídas pelos habitantes da rua a partir de objetos de consumo descartados.
E assim por diante. O olho seco sobre as coisas.
Há também o exercicio da escuta.
Certa vez, no centro velho, lá na praça do Patriarca, em torno da meia noite, voltando da av. Paulista a pé a caminho do Terminal de onibus Parque D.Pedro, escutei um habitante de rua no seu limite:
- QUE SE FODA! QUE SE FODA ESSA VAGABUNDA! ÉÉÉÉÉÉÉE! QUE SE FODA ESSA PORRA! ESSA PORRA DE SOCIEDADE! QUE SE FODA ESSA SOCIEDADE DO CARALHO!!!
texto publicado no jornal TRAULITO número 1 da Cia do Latão
Começo a trabalhar a partir da quarta- feira, seguindo nesse ritmo até aos domingos. Quarta e quinta trabalho das 17 as 12 horas. Sexta e sábado varo a noite. Segunda e terça são equivalentes ao sabádo e o domingo. Cobro cinco reais a caricatura.
Como caricaturista tenho de manter treinados duas coisas: a mão direita e o olhar. Tenho de desenhar rápido para abordar a próxima mesa, ganhar a grana possível naquele bar, avaliar o fluxo de consumidores, avaliar qual é o bar mais propicio para tirar a devida moeda.
O olhar é necessário para captar rapidamente os traços do rosto do cliente, seu geito , forma de sorrir, caracteristicas cômicas, detalhes engraçados. O olhar também serve para se precaver da violência que sempre espreita esse tipo de abordagem, e , para quem exerce esse tipo de trabalho, no geral a violência parte da clientela.
O olhar também é necessário para afiar a percepção do meio no qual estou mergulhado. Vejo outras coisas para além dos traços riscados na prancheta de desenho.
Exemplo:
A fragmentação do espaço urbano em territórios permanentes e temporários.
Diferentes classes sociais ocupando, transitando, se intercalando nesses fragmentos territoriais num jogo de forças com regras explicitadamente ocultas.
As táticas de sobrevivência daqueles que tem a rua como lugar para morar.
As táticas de sobrevivência daqueles que tema a rua como lugar para vender sua precária força de trabalho.
A arquitetura financeira se relacionando com cada grupo social de acordo com o seu valor de consumo.
A arquitetura das moradias construídas pelos habitantes da rua a partir de objetos de consumo descartados.
E assim por diante. O olho seco sobre as coisas.
Há também o exercicio da escuta.
Certa vez, no centro velho, lá na praça do Patriarca, em torno da meia noite, voltando da av. Paulista a pé a caminho do Terminal de onibus Parque D.Pedro, escutei um habitante de rua no seu limite:
- QUE SE FODA! QUE SE FODA ESSA VAGABUNDA! ÉÉÉÉÉÉÉE! QUE SE FODA ESSA PORRA! ESSA PORRA DE SOCIEDADE! QUE SE FODA ESSA SOCIEDADE DO CARALHO!!!
texto publicado no jornal TRAULITO número 1 da Cia do Latão
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
Garimpo larvar
por Maria
.
Lavrar em águas
turvas,
torná-la translúcida
e bela,
torneá-la em curvas
ou tê-la densa
e sincera;
Profunda em carne
de estrelas...
trazê-la entre
os dentes,
límpida, lúcida,
a cara lavada,
molusca natureza
perolada,
pele de seda
Palavra.
.
Lavrar em águas
turvas,
torná-la translúcida
e bela,
torneá-la em curvas
ou tê-la densa
e sincera;
Profunda em carne
de estrelas...
trazê-la entre
os dentes,
límpida, lúcida,
a cara lavada,
molusca natureza
perolada,
pele de seda
Palavra.
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
quarta-feira, 1 de dezembro de 2010
Algumas datas são comemoradas pelas comunidades para que o tempo histórico de suas origens possam ser trazidas do passado para o presente. Nestes dias de comemoração a memória dos heróis fundadores sofre uma ressureição, onde o renascimento se da pela festa no qual os mortos em nome dessa mesma comunidade voltam a dançar com seus descendentes.
NANANO_AS NARRATIVAS DO NAVIO NOMADE
NANANO_AS NARRATIVAS DO NAVIO NOMADE
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